quarta-feira, 21 de abril de 2010

Barca Bidart (1915-Ilha das Flores, Açores, Portugal)

Sobre o Navio:

A barca Bidart fora construída em 1901, pelos estaleiros navais Chantier Nantais de Construction Maritime, de Nantes. Este navio tinha 2199 toneladas de arqueação bruta e 1917 toneladas de arqueação liquida.O casco era de aço, tinha 84 metros de comprimento, com 12,30 metros de boca e 6,80 metros de calado. Como todas as barcas, tinha 3 mastros , largava pano redondo no de proa e no grande, e um latino quadrangular e gave­tope no de ré. Os mastros de proa e grande tinham dois mastaréus enquanto que o de ré ­ denominado da mezena ­ tinha um só.

Em Setembro de 1901, a barca foi lançada à água e entregue à Société Bayonnaise de Navigation. A barca, comandada pelo capitão Pinsonnet, iniciou então várias viagens entre a Europa e o continente americano, tendo­se desempenhado da missão de uma forma mais ou menos anódina. O único acidente digno de menção ocorreu em 1906 quando, em viagem para Tacoma, Washington, uma tempestade lançou um homem ao mar e arrancou parte do velame e da mastreação da barca.

A Bidart foi então vendida, em Maio de 1911, à Societé Anonyme de Voiliers Normands, estabelecida na praça de Rouen. Em 1915, sob o comando do capitão Jacques Blondel, os 23 homens da tripulação carregaram minério de níquel no valor de 500 mil francos e partiram da Nova Caledónia.



Sobre o naufrágio:

Durante a noite de 25 de Maio de 1915, a barca francesa de três mastros Bidart seguia, a meio pano e em pleno Oceano Atlântico, uma rota para norte, em direcção ao arquipélago dos Açores. A bordo, o comandante Jacques Blondel tentava proceder à manobra do navio, uma tarefa que não era em nada facilitada pela escassez de tripulantes válidos com efeito, em pleno século XX, ainda se morria de escorbuto a bordo dos navios oceânicos.

A longa viagem, sem escalas, que a barca Bidart realizava entre o porto de Thio, na Nova Caledónia, e o porto de Glasgow, na Escócia, era propícia ao desenvolvimento desta doença, causada por uma deficiência de vitamina C na dieta diária dos tripulantes. O escorbuto, causador de perturbações ósseas e de dores musculares, provocava também o aparecimento de fadiga e de depressões, o que em muito terá contribuido para a fatalidade que se aproximava.

Após vários dias de sol encoberto e da presença omnipresente dos nevoeiros, durante os quais não fora possível posicionar o navio pelo sol, o comandante estava praticamente perdido, sem ao menos saber a latitude certa da embarcação. Para piorar ainda mais as coisas, durante o anoitecer do dia 24 de Maio, morreu um dos marinheiros, de nome Letloc. Poucas horas depois, outros oito se lhe seguiriam.


Após quatro meses de viagem, a barca aproximava­se perigosamente do seu último destino. Às 4.30 da madrugada do dia 25 de Maio de 1915, o capitão Blondel apercebe­se, por entre a névoa matinal, de que a barca se aproximava de uma zona de rebentação. Rapidamente, Blondel tentou fazer com que o navio virasse para o mar. No entanto, a bravura crescente do mar e vento não lh'o permitiu vindo o navio a descair encalhando emfim no canto do Areal, junto aos rochedos do Lugar da Cachoeira, na freguesia da Fajã Grande, a cerca de 50 metros de terra.

Com o encalhe, o navio parte­se em dois e afunda­se, até ao castelo de popa, a cerca de 8 metros de profundidade. No processo, caiu também o mastro do traquete sobre a ré do navio. Com os salva­vidas inoperacionais, o piloto, o cozinheiro Charles, o imediato Pedron e o contramestre Lhotis atiraram­se à água, no intuito de se dirigirem até à costa e pedirem ajuda. Infelizmente, a agitação do mar apenas permitiu que fosse o piloto o único a lá chegar.

Perante este cenário, o comandante ordenou o abandono do navio. Após se terem munido de coletes de salvação, os elementos da tripulação saltaram, um a um, para o mar revolto. No final, apenas 14 se salvaram, entre eles alguns mais ou menos pisados, tendo­se afogado os marinheiros Legasi, Lecandre, Totbien, Lebreton e Kerne. Logo que foram recolhidos, os náufragos foram logo vestidos e tratados com a maior solicitude, por todo o povo da freguesia. O médico de Santa Cruz procedeu logo aos primeiros socorros, fazendo embarcar os feridos mais graves para o Hospital de Santa Cruz das Flores, logo no dia seguinte, assim que o mar acalmou.

Tanto o cozinheiro como o contramestre se afogaram, tendo os seus corpos dado à costa na freguesia da Fajãzinha, no dia 25 de Maio, juntamente com o de um marinheiro. Imediatamente, o povo os colocou em câmara ardente numa casa do Espirito Santo e ofereceu­lhes 6 coroas de flores naturais, que foram depostas sobre os cadáveres. Os habitantes ofereceram tambem lençoes e almofadas para os caixões dos mortos.


Por iniciativa do vice­vigário da freguesia, reverendo Caetano Bernardo de Sousa, fez­se o enterro com toda a solenidade, sendo os tres cadaveres acompanhados por todo o povo da freguesia.

O que restava do navio ­ avaliado em cerca de 300 mil francos ­ e da carga, foi arrematado por José Azevedo da Silveira por 210$000 reis, no dia 29 de Maio. Este comerciante local acabou por tomar posse de alguns salvados tirados do castelo de prôa, unico ponto do navio que está fora d’agua. O resto do navio estava submerso a alguns palmos abaixo da linha d’agua, tendo dentro parte da carga e todos os objectos de bordo, conservas e algum dinheiro. Por vários dias, o mar em volta do naufrágio tomou uma cor avermelhada, devido à fuga do minério de níquel que vinha embarcado a bordo da Bidart. Os náufragos sobreviventes embarcaram então para Lisboa, a bordo do paquete Funchal, tendo escalado Angra do Heroísmo a 15 de Junho de 1915.

No meio de todo este azar, o mais azarado acabou por ser o imediato. Este, que estava para se casar e que iria assumir o comando da Bidart, já tinha naufragado anteriormente nos Açores quando, simples marinheiro a bordo da galera francesa Caroline, tinha encalhado na vila da Madalena, ilha do Pico, a 3 de Setembro de 1901. Sobreviveu ao primeiro naufrágio mas não sobreviveu ao segundo.


O Spot de Mergulho:

Este spot é conhecido localmente como o "Papa Diamantes"

(A completar proximamente)




Bibliografia:

AA, 1901 'Naufrágio', Jornal Persuasão, no2071, 1901, Ponta Delgada

AA, 1915 Naufrágio nas Flores, Jornal A União, 17 de Junho de 1915, Angra do Heroísmo

LLOYD’S 1914, Register of Shipping ­ 1914, Lloyd’s Society, Londres

MORAES, A. 1994, O naufrágio da barca ‘Bidart’ nos Açores, in Revista de Marinha, Setembro/Outubro de 1994, Lisboa


Informação retirada do Site:

http://www.entrada.tv/DB/wrecks/DB/Bidart/Bidart_Ilha_das_Flores_1915_AlexandreMonteiro.pdf

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